As horas mais amargas e melancólicas da minha vida conheci-as durante a juventude, nos meus anos de Lisboa. Há lá ruas por onde ainda hoje não passo sem sentir um baque no coração, como se continuassem presentes os temores do passado. Certos jardins e miradouros de bela paisagem só despertam em mim lembranças de desespero.
Algumas noites debrucei-me, igual a tantos outros, nos parapeitos do Terreiro do Paço, a olhar o rio, perguntando-me se valia realmente a pena voltar ao meu miserável quarto de aluguer, e à angústia de um viver sem esperança, ou se não seria melhor acabar ali mesmo, deixando-me escorregar para a escuridão da água.
Não, Lisboa não é para mim um lugar alegre nem feliz. É uma cidade onde tive medo e onde algumas vezes me senti morrer.