terça-feira, setembro 8

Quase de partida (3)

 

"O custo de um tratamento de 2 milhões de Euros para salvar um doente de doença não transmissível, é compreensivelmente rejeitado pela sociedade. Um custo muito superior para salvar uma vida de numa doença transmissível, passa a ser aceitável porque a vitima pode ser qualquer um. A aceitação de todas as medidas preconizadas, a intolerância para quem não as segue é ditada pelo instinto de sobrevivência de cada um,  mais do que por uma consciência social de proteção do grupo. Egoísmo ao invés de solidariedade. 

A falta de solidariedade aliou-se á ineficácia. Os maiores de 70 anos são o grupo que apresenta taxas de mortalidade realmente significativas. Não só não se concentraram os meios para os proteger, como foi, um pouco por todo o mundo, patente a enorme mortandade nos lares. Uma fracção dos custos gerais suportados pela sociedade, usados com eficiência,  seriam suficientes para prevenir a maior parte destas mortes e tornar a mortalidade desta doença perfeitamente suportável. Mas quem está em lares parece já não contar.

Claro que a explicação oficial é diferente. Não se podem descriminar os mais velhos. Mesmo que seja para seu beneficio e porque são as vitimas naturais da pandemia.

O que se vê são sobretudo a multiplicação de medidas de eficácia duvidosa, para proteger aqueles que menos precisam de proteção, mas que votam.

A tendência natural é culpar os políticos. Porque não são eficientes. Porque não são corajosos, porque sabem que se fizerem o que foi feito noutros países, ninguém os vai crucificar. Precipitando o mundo num diapasão comum mas desafinado.

Do meu canto, parece-me que esta pandemia despertou o pior que há em nós. E que o medo gerado, despertou o nosso egoísmo. Que condicionou as respostas e as tornou desequilibradas e certamente pouco solidarias."

De José Miguel Roque Martins. O texto completo aqui.