sexta-feira, setembro 18

A viagem coronária (3)

 Chegámos ao hotel passava das dez da noite, cansados como é de esperar depois de treze horas de estrada, mas agora cabe aqui um pouco de história e recuo no tempo para o Outono de 1987. Perto de Poitiers tinha sido inaugurado o Futuroscope e nele descobrimos o excelente Novotel, onde desde então nos hospedámos uma média de quatro vezes por ano. Como quase sempre acontece as coisas vão mudando, com elas mudam também as pessoas, os hábitos e muito mais. Com o correr do tempo o Novotel do Futuroscope foi perdendo o charme e a qualidade, o restaurante tornou-se, enfim…, as instalações foram-se degradando, o que motivou mudanças e uma renovação muito à modo deste nosso tempo. O hóspede vai aceitando, em certos aspectos até compreende que um hotel com centenas de quartos não é o hotel com duas ou três dezenas.

Assim, uma vez chegados, levou-se para o quarto o que se necessitava de bagagem, lavaram-se as mãos, mas lavar a cara é que parecia bico de obra, e a curiosa bacia da fotografia, quadrada, com apenas 5 cm de altura e uma torneira que quase impede que se lhe toque, já a conhecíamos da estadia anterior, era questão de encolher os ombros.

Foi então que a minha mulher veio para mim com cara de desagrado, segurando uma toalha  para as mãos e uma toalha de banho. Só havia aquelas, devia ser descuido, era aborrecido, mas tudo tem remédio, pensámos nós. E em vez de telefonar desci até à recepção. A jovem, gentil e muito simpática funcionária ouviu o que eu lhe dizia, mas quase me fez cair de cu pela explicação que deu: é que agora era assim: para duas pessoas uma toalha pequena e uma grande, acrescentando: "C'est le protocole!" Mas como o computador lhe tinha dito que eu era hóspede fiel de décadas, ela por esta vez, mas só por esta vez, dava-me mais uma toalha pequena e uma grande.

E eu, muito cavalheiro, obriguei-me a um sorriso e a um "merci". De manhã, tomado o pequeno-almoço, pagos os € 151,00 da conta, em vez do nosso antigo "Au revoir" voltámos as costas a trinta e três anos de tradição. Grande pena, mas como diz o provérbio: "Tout passe, tout lasse, tout casse".

O resto da viagem foi sem história, e aqui me despeço de quem  acompanhou estas andanças.                                                                                        

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