Saudade é aflição de que sempre sofri, agora mais que nunca, não devido à idade mas por muito que sonhe e deseje me saber incapaz de estar em simultâneo em todos os lugares onde me prendem amizades e recordações felizes, ter como nunca antes consciência da fragilidade da vida, de como ela vai decorrendo sempre à beira de precipícios que umas vezes nos escondem outras preferimos não ver, em que nas horas piores arriscamos o salto para depois, com espanto, descobrirmos que não havia precipício e tudo, até o salto era desejo tolo, fantasia destravada.
São palavras, bem sei, que já não pomos no papel onde dias, anos, séculos, nos encaravam, testemunhando das ambições, dos temores, e agora eliminamos com um clique, na ilusão de que tudo podemos criar, refazer, julgando-nos donos do mundo quando de nada somos donos, nem de nós próprios, seres inconscientes que quando por instantes realmente acordam só conhecem um sentimento: o medo comum a todas as espécies.