Nunca teve muitos praticantes, a bela arte de meter a viola no saco. Corrente é o tirá-la de lá e dedilhar, ora inconveniências, ora asneiras, sem cuidado nem preocupação de se interrogarem se o outro é servido.
Quando estou de melhor humor digo-me que deve ser do tempo, ou porque anda a Lua em quarto minguante, noutras ocasiões oiço calado e tomo depois uma aspirina.
De momento parece que os atraio, os impertinentes que começam por um elogio chocho e me explicam então que, no texto tal, eu deveria ter eliminado o segundo parágrafo, "porque ficava muito melhor." Lamentam também a secura e o laconismo do que escrevo, inquirindo com ar fino se será por estar "há tantos anos lá fora." Muito proveito tiraria eu, dizem, se lesse a prosa de X, autor de dois belos romances e uma antologia poética.
Aí já não dedilham. À desgarrada e em ré maior desatam a cantar o talento de X, "que esse sim, esse é que merecia o Nobel!" Hão-de me trazer o primeiro livro dele, e vou ver "como é que se escreve."
Quem nesses momentos me vir sorridente, silencioso, a dizer que sim com a cabeça, saiba que estou a invocar a divindade, solicitando ao Altíssimo que a paciência com que sofro seja tomada em desconto dos meus muitos pecados.