De há meses para cá gastei horas, muitas horas, a criar personagens, a desenvolver cenas e enredos, a imaginar o fim, mas esta manhã achei os personagens antipáticos, artificiais, as cenas uma miséria, do enredo nem quero falar.
Ainda pensei duas vezes, depois reli, respirei fundo, a má impressão permanecia, com um simples clique imitei o rasgar de papel, desapareceu tudo no buraco cibernético que substitui o cesto.
Assim se foram sessenta e tantas páginas, e horas sem fim de canseira que, mesmo à tarifa do salário mínimo, seriam um decente rendimento.
Todavia, não lamento o esforço perdido nem o trabalho sem proveito, pois há muito tarimbo em situações idênticas. O que desta vez me pôs a pensar foi para onde irá toda essa gente que "matei". Haverá perigo de que se vinguem e um dia destes retornem, fingindo-se outros, mostrando-se aceitáveis, obrigando-me de novo a gastar horas e engenho?
Bem era que os personagens que descartamos nos dessem certeza igual à dos amigos que levamos a enterrar: a de que permanecem na sepultura.