Há quem alimente a ilusão de que a vida se assemelha a uma estrada, os avisos a
anteceder as curvas perigosas, os declives anunciados em percentagens, os
cruzamentos assinalados, nos miradouros sempre bela a paisagem.
E então, iludidos pela própria ingenuidade, há os que se julguam capazes de na estrada, como na vida, indicar aos outros o melhor percurso, prever as curvas, os obstáculos, aconselhar paragens e cuidados. Pena perdida. Muito pouco, quase nada, valem os avisos e as boas intenções dos que nos querem proteger. Para a vida tão-pouco há mapas, instruções ou programas, mesmo à luz do dia cada passada é dada no escuro, nunca se sabe se virar à direita é melhor do que à esquerda, se seguir em frente é erro.
Felizmente vamos andando, cegos de olhos abertos, contentes de que as pernas nos levem, iludidos de que sabemos para onde.