Mesmo aquele que só possui um modesto nível de instrução, o holandês rapidamente se apercebe do cachet que emprestam estes dois conceitos, geralmente unidos numa única expressão dita de um só fôlego: ‘Arte e Cultura’.
Está o tempo mau para a praia? Então vai o fim-de-semana ser dedicado à arte e à cultura. A dificuldade está na escolha, porque a oferta é estonteante, desde a exposição do pintor que, algures no pólder, só pinta canecas e cadeiras, até às maravilhas dos grandes museus.
Se lho perguntam, o holandês explicará como cuidadosamente planeou as suas férias em função das horas de sol que o destino, de preferência exótico e longínquo, oferece, mas acrescentando o infalível estribilho de que vai também desejoso de contactar os autóctones, e com muito interesse pela sua arte e cultura.
Arte e Cultura ! Que me perdoem os que sabem ser moderados nos seus juízos e me deveriam ser exemplo. Perdoem-me os artistas que nos enriquecem o espírito. Que me compreendam os que, intimamente e sem espalhafato, se concentram a admirar um quadro ou uma catedral.
À seriedade de todos esses sinceramente faço vénia. O que me torna exagerado e rabioso é a massificação do que, de facto, não deveria ser massificado, o pasmo bovino e superficial das hordas que olham sem saber o que vêem, convictas de que ficar especado e silencioso defronte de uma obra de arte empresta status e diferencia do vulgo.
Eu sei, por toda a parte é o mesmo, o fenómeno é geral, dá-se nos países com majestosos museus e nos menos dotados em tesouros. Constato-o no meu Portugal onde, embora menores, nas filas para os eventos culturais é também mais elevada a proporção de basbaques, do que a dos que lá estão com sério e fundado propósito.
Mas aqui não me interessa o mundo, nem sequer a terra onde nasci. Interessa-me apenas a Holanda, o país onde há tanto de bom. Nele gostaria eu de ver menos conformismo com os ditames do comércio, mais rebeldia contra o pechisbeque na arte e na cultura. Menos seguidores de modas e tendências, mais espíritos críticos. Saia a palavra: menos massa, mais elite, menos rebanho, mais pastores conscientes da sua responsabilidade e mais competentes no seu saber.