sábado, fevereiro 8

O braço à Hitler


Há conversas em que chegado o momento da despedida nos sentimos de tal modo  atordoados que nos valemos então de frases ocas, da pancadinha nas costas ou daquele aperto de mão a que a força que damos trai o nosso embaraço.
Num primeiro contacto quem o não conhece avalia o Candeias pelo modo reverente, o metro e cinquenta e oito da estatura, a maneira de olhar em volta como se esperasse ameaça ou surpresa e tira a conclusão de que um tipo assim é de sacristia ou arrasta a vida a vergar a espinha atrás de um balcão. A verdade é que mais uma vez e também aqui as aparências iludem, que o digam a D. Fernanda, as filhas, ou o pessoal da secretaria da Câmara, que a todos trata com um azedume de sargento.
Nós, os seus poucos amigos, conhecemos um outro Candeias, patriota à moda antiga e de uma maneira que por vezes lhe cria inimizades, pois nem todos têm paciência para o ouvir e aceitar um extremismo que vem das suas convicções e talvez também de um certo desequilíbrio da sensibilidade.
Dias atrás encontrámo-nos como por acaso, embora me pareça que o acaso o provocou ele, pois doutro modo teria começado com rodeios, a falar disto e daquilo, mas desta vez foi directo ao assunto, confessando que anda preocupado porque alguém pôs no Facebook um vídeo de quando o Sócrates esteve preso em Évora e aparece ele num grupo a gritar “Sócrates, amigo, o povo está contigo!”
Foi assim, não vai negar nem se arrepende, houve alturas em que sentia verdadeira admiração pelo ex-Primeiro Ministro, mesmo agora ainda tem dúvidas se ele será culpado ou há ali uma dessas conspirações que mais tarde se vêm a descobrir e nos deixam de boca aberta.
Seja como for os tempos mudam, a gente vai vendo e aprendendo, quando Costa tomou
conta do PS e nem uma única vez foi à prisão visitar o homem a quem tanto devia, achou ele também que o caminho a seguir era deixar o PS, o que fez em Maio de 2018.
Desde então vai acompanhando tudo, a política continua a interessá-lo até mais do que o futebol, deve ter sido em Julho que começou a dar conta que o Chega talvez correspondesse melhor aos seus ideais de cidadão patriota e antigo combatente.
Diz ele sério que a decisão está tomada, na próxima semana vai-se filiar no Chega e ficará a saber quem são os verdadeiros amigos ou os que fazem de conta como o Tavares, porque com tipos desses nunca se sabe.
- Foi ele que me contou do Facebook, mas agora quando me encontra levanta o braço à Hitler e diz “André, amigo, o povo está contigo!” Não acho graça.