sexta-feira, fevereiro 7

Nótulas (84)


Excerpto da análise de Rui Ramos no Observador de hoje: A “luta de classes” voltou à Europa? /premium

“Houve a fuga para a frente dos anos 90, quando o medo da Alemanha unificada precipitou uma unificação a mata cavalos. Mas houve também, nas últimas décadas, o que Michael Lynd, em The New Class War: Saving Democracy from the Metropolitan Elite (Atlantic Books, 2020), e Jérôme Sainte-Marie, em Bloc contre Bloc: La Dynamique du Macronisme (Les Éditions du Cerf, 2019), descrevem como a emergência, nos meandros da globalização, de elites internacionalizadas, dispostas a tratar as antigas nações como coisas obsoletas. Os seus valores são os dos actores “progressistas” de Hollywood. Apreciam os imigrantes, que trabalham obedientemente nas suas cozinhas, mas abominam as plebes mais antigas do Ocidente, a que atribuem toda a espécie de preconceitos, a começar pela afeição nacional.
Jêrôme Sainte-Marie resume pitorescamente a sua análise recorrendo a Karl Marx: a “luta de classes” consistiria hoje no confronto entre elites cosmopolitas de “quadros” com grandes rendimentos, tentando agregar a si as “minorias”, e, do outro lado, os operários, o mundo rural, e as classes médias mais tradicionalistas. As elites  acusam os seus críticos de constituírem uma ameaça à democracia, enquanto “populistas”; mas são as próprias elites que parecem cada vez mais impacientes com um sistema que nem sempre conseguem controlar. Daí, na Europa, a tentação de usarem a UE como um meio de diluir as comunidades nacionais numa estrutura burocrática de tipo imperial, ao abrigo de surpresas eleitorais.”