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Há muito perdi a conta às vezes que do mesmo sítio
fotografei a ponte Dom Luís. Esta é do Verão de 1982 e o ambiente pouco difere
do da minha infância.
“Na ponte de cima era o vaivém de eléctricos amarelos, camionetas
de carreira, camiões, automóveis, grupos de gente.
Sem eléctricos e de curvas apertadas a cada extremo, a
ponte de baixo era mais sossegada, com o seu trânsito de carrejões, vareiras,
leiteiras e padeiras, carvoeiros, carros de bois. De longe a longe um camião
com pipas, um táxi com pressa, mas buzinar não adiantava, porque quem ia pesado
de carregos caminhava pelo meio do tabuleiro, sem ceder um palmo.
Eu via os carros, via as trouxas. Via mais longe as
mulheres da carqueja, curvadas sob molhos incríveis, subindo dos barcos
«rabelos» para o cais e, Calçada da Corticeira acima, aos rodeios, com uma
lentidão e persistência de insectos.
A Calçada da Corticeira, ruim de subir, ruim de descer, tão
íngreme que parecia um traço quase vertical na encosta.”
In Ernestina – Quetzal,
2009