Há ocasiões em quase cedo ao
impulso, mas felizmente logo acalmo, é tolice usar energia e perder tempo à
procura dos adjectivos que melhor assentam nos dois com quem ainda tenho
de acertar contas. Todavia, se a calma a que por agora me obrigo os vai
poupando e adia o ajuste, não quer isso dizer que me saiam da memória. Nem eles
nem a refinada pulhice de que são capazes alguns que parecem ter nascido para
incarnação da sordidez e com artes que são a marca dos cavalheiros de
indústria.
Passaram três anos e por enquanto vou no esboço, mas
mentiria se negasse a satisfação que me dá antecipar o resultado, prever a
raiva de pelo menos aquele que, reconhecendo-se no retrato, tomará consciência de que
não lhe deixo maneira de escapar, o mostro ali sórdido e repelente de
impotência, bilioso, vomitando aquela inveja que parece exclusiva dos que,
falhados na escrita, se agacham na crítica literária.
Não esqueço nem perdoo, além de que para a minha guerra tenho
armas que ele não sabe manejar.