sexta-feira, abril 12

Na "SÁBADO"

- Disse que está um pouco surdo... é da idade? Que mais chatices tem tido?
- É da idade, claro. Os anos não perdoam, o aparelho gasta-se. Depois há aquele género de conversa que irremediavelmente danifica os tímpanos. Junte a isso, ao longo de oitenta e três anos, o hábito de fechar os ouvidos para não ouvir o que desagrada.
Chatices nenhumas. Recuso-as sempre, de modo que continuo optimista e em boa saúde.
 
- Como vão as coisas por Trás-os-Montes?
Muito bem, como sempre. Nós, transmontanos, há séculos que aprendemos a aguentar, não é preciso que um ou outro banqueiro nos venha ensinar essa virtude.
 
- O que é costuma fazer quando está aí?
Leio mais do que em Amsterdam. Escrevo menos. Almoço. Distraio-me com a passarada. Vou à farmácia, vou ao que antigamente se chamava 'As Finanças', à Caixa. Dois dedos de conversa aqui e ali.

- E como vão as coisas na Holanda? Muito frio?
O aquecimento central ignora o frio. As coisas por lá vão como de costume: planeadas, pautadas, regulamentadas, organizadas. Há quem refile com a cambada de mandriões que vive a sul de Bruxelas, mas isso é hábito antigo.

- Ainda não se fartou daquela malta?
Seria contraproducente, fora que há mais de meio século lhes pertenço.

- E quando vem cá, ultimamente, nota diferença no povo?
O nosso povo anda triste, e com razão. Pena não haver instrumento para pôr a ferros a cambada que lhe rouba o sustento e lhe tira a esperança. Mas quem sabe? Nosso Senhor manda cancros, manda revoltas.

- Este novo romance, “Mentiras & Diamantes”, de onde vem a ideia?
De uma conversa interessante com gente muito interessante.

- E a personagem de Sarah... é inspirada em alguém?
Claro. Se ler o romance verá que é mulher de carne e osso. E vive no Algarve

- Quanto tempo demorou a escrevê-lo?
O contrato para a edição holandesa, que ainda não saiu, é de Fevereiro de 2002. A conversa de que atrás se fala deverá ter acontecido uns quatro anos antes. Faça as contas.

- Quando volta para a Holanda?
Passados três ou quatro meses na aldeia, e carregadas as baterias da saudade, ponho-me a andar. Será antes do calor de Agosto.