- É da
idade, claro. Os anos não perdoam, o aparelho gasta-se. Depois há aquele género
de conversa que irremediavelmente danifica os tímpanos. Junte a isso, ao longo
de oitenta e três anos, o hábito de fechar os ouvidos para não ouvir o que
desagrada.
Chatices
nenhumas. Recuso-as sempre, de modo que continuo optimista e em boa saúde.
- Como vão
as coisas por Trás-os-Montes?
Muito bem,
como sempre. Nós, transmontanos, há séculos que aprendemos a aguentar, não é
preciso que um ou outro banqueiro nos venha ensinar essa virtude.
- O que é
costuma fazer quando está aí?
Leio mais do
que em Amsterdam. Escrevo menos. Almoço. Distraio-me com a passarada. Vou à
farmácia, vou ao que antigamente se chamava 'As Finanças', à Caixa. Dois dedos
de conversa aqui e ali.
- E como vão
as coisas na Holanda? Muito frio?
O
aquecimento central ignora o frio. As coisas por lá vão como de costume:
planeadas, pautadas, regulamentadas, organizadas. Há quem refile com a cambada
de mandriões que vive a sul de Bruxelas, mas isso é hábito antigo.
- Ainda não
se fartou daquela malta?
Seria
contraproducente, fora que há mais de meio século lhes pertenço.
- E quando
vem cá, ultimamente, nota diferença no povo?
O nosso povo
anda triste, e com razão. Pena não haver instrumento para pôr a ferros a
cambada que lhe rouba o sustento e lhe tira a esperança. Mas quem sabe? Nosso
Senhor manda cancros, manda revoltas.
- Este novo
romance, “Mentiras & Diamantes”, de onde vem a ideia?
De uma
conversa interessante com gente muito interessante.
- E a
personagem de Sarah... é inspirada em alguém?
Claro. Se
ler o romance verá que é mulher de carne e osso. E vive no Algarve
- Quanto
tempo demorou a escrevê-lo?
O contrato
para a edição holandesa, que ainda não saiu, é de Fevereiro de 2002. A conversa
de que atrás se fala deverá ter acontecido uns quatro anos antes. Faça as
contas.
- Quando
volta para a Holanda?
Passados
três ou quatro meses na aldeia, e carregadas as baterias da saudade, ponho-me a
andar. Será antes do calor de Agosto.