quarta-feira, dezembro 14

Sangue nobre

São família de muitos irmãos, muitos tios, primos às dezenas, dizem por vezes a brincar que com eles se fazia um regimento. Provavelmente não chegariam, se bem que juntando os parentes em segundo grau, de certeza se formava um batalhão.
Gente humilde, boa, trabalhadeira, exemplar nas virtudes antigas da seriedade, agradável e simpática no trato. Mas então não é que, pelas minhocas criadas na cabeça de uma prima a viver para os lados de Perpignan, foram como que atacados de loucura colectiva?
Procurando aqui, colando além, fazendo dos enganos certezas, inventando onde dava jeito, concluiu ela, e fez saber, que a humildade da origem comum era fábula. Não seriam primos dos Braganças, mas nos idos de mil setecentos e tantos descobrira nos anais a existência e o nome de um fidalgo que, pela acção conjunta do álcool, do jogo, da preguiça e da putaria, caíra na miséria.
Desse infeliz descendem, mas agora, ordenou a prima, têm obrigação de dizer quem são, donde vêm, que os gerou sangue nobre. E eles dizem-no, repetem incansáveis a genealogia, deixaram de votar socialista.