sábado, dezembro 24

Boas-Festas

Mandei postais e mails, juntei abraços, xi-corações, beijos, beijinhos grandes, votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo, saudades, umas quantas palavras de sentida simpatia. Cumpri o hábito, o ritual, e em vez do sentimento de satisfação cai sobre mim uma névoa de melancolia
Logo à noite a nossa consoada vai ser feliz, harmoniosa, a família inteira à mesa (só já somos nove), mas neste começo do dia ensombra-me a memória de Natais tristes, pesados de infortúnio e desespero. Tento, mas não consigo, afastar de mim o pensamento dos que não vão ter Natal, nem consoada, e se sentem abandonados num mundo em que para os outros tudo é festa.
De nada adianta, bem sei, mas quanto mais seguro é o meu conforto, mais consciência tenho da dor alheia e me aflige a injustiça.