Entre as surpresas, muitas, e uma ou outra alegria que a Holanda me causou quando em Março de 1956 lá cheguei, recordo a distribuição do correio.
De manhã, ao meio do dia, ao fim da tarde! Viciado em correspondência, como desde a adolescência era, apreciei a sobredose, pareceu-me aquilo também um sinal de civilização. Com o passar dos anos o carteiro viria duas vezes, mais tarde só uma, a Radio Nederland anunciava esta madrugada que deixará de haver correio à segunda-feira.
Medida acertada, pois raras se tornaram as cartas. A última que recebi data de Outubro, há mais de um ano que não pego em pena e papel para caligrafar palavras de cortesia ou amizade. Com o desuso estragou-se-me a letra. Depois o fax e agora o e-mail desabituaram-me da epistolografia, além de que tenho a impressão que, neste tempo de pressas e instantaneidade, o destinatário desataria a rir com uma missiva onde lesse a abertura clássica: "Estimamos que ao receberdes esta estejais de perfeita saúde. Nós, graças a Deus vamos bem."
Mas confesso que por vezes tenho saudade daquela excitação de abrir o envelope, desdobrar a folha, dar uma rápida vista de olhos ao conteúdo, saborear com demora as palavras de amizade, e responder de imediato, como se estivéssemos em conversa.