sexta-feira, dezembro 9

Reputações



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Há reputações em que se recomenda não mexer. São exemplos correntes o génio político de Mário Soares, o heroísmo dos Capitães de Abril, a mundialidade do Fado, o sabor das cerejas de Alfândega da Fé (usadas nos bombons Mon Chéri), o génio de Sá Carneiro, as sardinhas da Afurada, a qualidade dos Toyota, o Alvarinho, o São João das Fontainhas, e assim por diante.
Aqui no Nordeste transmontano temos, entre as mais salientes, a reputação de Trindade Coelho. Há quem se lhe refira como "grande vulto das nossas Letras" e soletre o título In Illo Tempore com o recolhimento que os padres usam no Latim da missa.
Admira você Trindade Coelho? Acha-o, como agora é usança dizer, um nome incontornável da literatura pátria? Sabe de cor páginas de Os Meus Amores?
Serei o último a apoucar o seu gosto e simpatia, mas acontece que, por mais que me esforce – li compassadamente os três volumes da obra do mogadourense – chego sempre à conclusão de que aquilo nem sequer o classifica como um minor master, qualificativo que os cínicos ingleses dão aos autores que de facto não se apreciam, mas por razões várias se têm de  elogiar.
Isto dito, com surpresa descobri a maroteira que fizeram os meus confrades da Confraria Queirosiana, pondo-me nas mãos do ilustre transmontano. Nota-se que com uma segura a folha e com a outra se apresta a rasgá-la.
Se quando no outro mundo nos encontrarmos ele ameace passar a vias de facto, não estranharei, em certas reputações é melhor não mexer.