É sobre a segunda viagem de Vasco da Gama à Índia, o passo que leio na História de Portugal, de Oliveira Martins. A incrível crueldade do fidalgo que, por se ter sentido humilhado pelo Samorim, deixa atrás de si horror e destruição, comportando-se como o mais tenebroso dos selvagens.
Vieram depois outros de menos nome, mas nada lhe ficam a dever em desumanidade, e na nossa História, para só falar destes, deixam razão de sobra para vergonha a perseguição dos judeus, as lutas entre Liberais e Miguelistas, a proclamação da República, a Guerra Colonial.
Tudo isso é mais que sabido, só vem aqui ao caso devido a uma frase do historiador que, nos últimos dias, por razões várias, me leva a pensamentos que preferiria não ter.
Escreve Oliveira Martins: "A história da viagem (de Vasco da Gama) é um horror; e a desforra do capitão uma prova dessa frieza sanguinária, impassível e cruel, que efectivamente existe no temperamento, quase africano, do português".
Dispenso a televisão e o Correio da Manhã, basta-me por vezes olhar em volta.