Saíam antes da missa com dois ou três cães, a caçadeira calibre doze ao ombro, um naco de pão e queijo na saca a pender do cinto, os cartuchos em volta da barriga. Regressavam contentes, enfeitados de coelhos e perdizes, às vezes uma lebre que avultava pelo tamanho. Isso no tempo em que eram grandes as searas, muita a caça, simples as pessoas e os costumes.
Os de hoje vão de carrinha, a espingarda escondida, se adregam matar algum coelhito embrulham-no num saco de plástico para que ninguém veja. Perdizes não há.
Os da cidade, esses, vestidos de camuflagem e chapéus de cobói, andam desatinados de um lado para o outro em caravanas de jipes, os cães em atrelados. Buzinam. Os motores roncam. Param aqui e ali em consulta, desdobram mapas, tiram binóculos, investigam as encostas e gesticulam para todos os lados.
Por volta da uma vão a Carviçais almoçar n' O Artur, debitam lá aos gritos e gargalhadas que isto por aqui está uma merda, caçar é na Espanha. Depois, empanturrados de posta mirandesa e vermelhuscos da pinga, um ou outro de charuto, cálice de aguardente na mão, fumam com pose encostados aos jipes.
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A fotografia mostra o senhor Hermínio, que Deus tenha, nosso vizinho, bom carpinteiro, caçador emérito. Tirei-a uma manhã de domingo, em Setembro de 1972, e recordo que ma agradeceu com duas perdizes.
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