Dois casais idosos. Eu, idoso também, estou ali sorridente, um exterior de cortesia, o íntimo assombrado com o que uma conversa deixa transparecer de medos da alma e vácuos da inteligência.
Cresceram, trabalharam, fornicaram, estão perto do fim, e de que falam? O que os ocupa?
O calor do Verão passado, os assaltos, a vizinha no hospital, que ainda são muitas as moscas, os pés inchados, os comprimidos castanhos que agora são azuis..
Isto foi anteontem à noite. Ontem almocei com um casal jovem. Estão a crescer, trabalham, fornicam. Oiço-os atento. E de que falam? Do Opel que vão comprar. Que estiveram nos Açores e lá é muito bonito. Para o ano voltam. Viram as baleias. Que lhes parece que as coisas não estão tão más como se diz. Mais um mesito e vão esquiar em Andorra.
Começo o dia perguntando-me porque recordo o que me aborreceu ou achei sem interesse, e assustado com a probabilidade de que o vazio alheio espelhe o meu próprio.