Fomos ontem e hoje à Feira dos Gorazes em Mogadouro. Feira de ano, coisa grande nos tempos de antigamente, quando se falava dela com o assombro de quem tinha visitado a exposição mundial. Ia-se aos Gorazes para a compra de bestas, alfaias e adubos, encontrar parentes e comer chicha, mas sobretudo para, com autoridade, se poder depois dizer que tinha sido feira de respeito e na nação inteira nenhuma se lhe comparava.
Conheci-a em miúdo, há mais de um século. Guardo a saudade e entristece-me a recordação, mas tenho siso bastante para não romantizar o que foi. Tão-pouco darei voz às impressões de agora, criticar os modos, zombar da modernice tristonha dos que ainda não têm história e se arrastam de um lado para o outro, fardados de Adidas, a mulher ao lado, os putos atrás. A ver. A olhar. A olhar sem ver a fila de tractores gigantes, a aparelhagem que mete impressão. Pares de idosos mais antigos do que eu, desnorteados, perguntando onde são as oliveiras e se a mulher dos frangos que ontem estava ali já terá ido embora.
Os feirantes acham que é pouca a gente, o povo diz que está tudo mais caro, felizmente os restaurantes enchem e são muitos, distingue-os a fala, os tripeiros, os franciús e os leoneses que vieram para comer a posta.
Amanhã é o último dos três dias. Depois vão-se fazer as contas e diremos uns aos outros que para o ano será melhor.