Será empossado amanhã o novo governo holandês, acerca de cuja política o primeiro- ministro, Mark Rutte, já antes tinha anunciado que, para a Direita, seria "de lamber os dedos". E assim parece que vai ser, pondo fim à supremacia do partido trabalhista (PvdA) cujos resultados, política e socialmente não foram dos melhores, tendo contribuído para a actual polarização e para o êxito eleitoral do partido de Geert Wilders.
Vai haver mudança no "carinho" para com os imigrantes islamitas; vai haver mudança na discriminação positiva; as boas almas já aflitas de que entre os doze novos ministros apenas três são mulheres, ao que Rutte respondeu que os critérios da escolha foram a competência e a experiência, não o sexo.
Sim, muita coisa vai mudar. O facto de Geert Wilders estar actualmente a ser julgado por supostamente "ter incitado ao ódio contra os islamistas", levou Ayaan Hirsi Ali, num interessante artigo publicado no Wall Street Journal de ontem, a afirmar que não é impensável que venha a haver violentos confrontos entre o milhão de islamistas actualmente nos Países Baixos e o quase milhão e meio de eleitores que votaram no PVV de Wilders.
Interroga-se Hirsi Ali sobre como é possível que "numa democracia europeia adulta um membro do parlamento possa ser julgado devido aos seus pontos de vista políticos sobre um dos mais prementes assuntos deste tempo, a saber: o fundamentalismo islâmico."
Segundo Hirsi Ali há para tal três razões. Em primeiro lugar o facto de que a Holanda tem dificuldade em aceitar opiniões que diferem em demasia do consenso. Contra isso, a única resposta das elites é "a perigosa ideia da tolerância".
Uma outra razão para esse processo é o facto de que nos Países Baixos os islamitas são um bloco político cada vez mais poderoso, e o qual tem de ser levado em conta. "Durante as eleições autárquicas de 2006 os islamitas formaram pela primeira vez um bloco com suficiente poder eleitoral para aniquilar ou assegurar a vitória de qualquer partido."
O último motivo para o processo Wilders é a pressão das organizações islamitas estrangeiras junto dos países europeus para que seja evitado o debate acerca do Islão. Uma das estratégias dessas organizações é conseguir, junto da União Europeia, que se torne punível a "incitação ao ódio."
Seja como for, durante o último meio século em que a tenho acompanhado, nunca a política interna holandesa foi tão interessante como é neste momento, e com igual promessa para o tempo a vir.