quarta-feira, fevereiro 19

Nótulas (95)

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Há muito perdi a conta às vezes que do mesmo sítio fotografei a ponte Dom Luís. Esta é do Verão de 1982 e o ambiente pouco difere do da minha infância. 

“Na ponte de cima era o vaivém de eléctricos amarelos, camionetas de carreira, camiões, automóveis, grupos de gente.
Sem eléctricos e de curvas apertadas a cada extremo, a ponte de baixo era mais sossegada, com o seu trânsito de carrejões, vareiras, leiteiras e padeiras, carvoeiros, carros de bois. De longe a longe um camião com pipas, um táxi com pressa, mas buzinar não adiantava, porque quem ia pesado de carregos caminhava pelo meio do tabuleiro, sem ceder um palmo.
Eu via os carros, via as trouxas. Via mais longe as mulheres da carqueja, curvadas sob molhos incríveis, subindo dos barcos «rabelos» para o cais e, Calçada da Corticeira acima, aos rodeios, com uma lentidão e persistência de insectos.
A Calçada da Corticeira, ruim de subir, ruim de descer, tão íngreme que parecia um traço quase vertical na encosta.”

In Ernestina – Quetzal, 2009