Para desconforto e suficiente aborrecimento anda o meu cérebro atrasado em relação ao corpo, mas felizmente ainda sobram nele travões e o juizinho vai dando conta do recado, se bem que a tentação apareça vezes demais ao dobrar da esquina, e continuem inesperadas as cascas de banana de que resultam desagradáveis espalhanços.
Ora o certo é que, sejam eles reais ou fictícios, os espalhanços vão mal ao decoro que se espera da velhice, e pior ainda com a fragilidade de um esqueleto próximo da centena de anos de muito uso.
Felizmente não dei tombo, mas pela enésima vez estive vai não vai para meter o nariz onde não sou chamado, e reagir aos escritos de uma senhora cuja elegante e maliciosa prosa umas vezes me leva a ranger os dentes de inveja, noutras a franzir o sobrolho daquele modo que os idosos têm para com a juventude. Porque a senhora em questão definitivamente e de várias maneiras é jovem, embora finja não o ser, como quando en passant deita mão dos génios da velha Roma ou da Grécia clássica. Mas em pessoas assim os anos contam pouco, quase nada, os deuses vigiam-lhes o berço e logo aí lhes apontam as belas avenidas por onde corre a vida dos poucos que abençoam.