Às vezes é desleixo, noutras falta de tacto, ou então porque se deixam arrastar pela peçonha e não se dão conta de que ficam de rabo ao léu. Seja como for, talvez porque há muito aprendi a farejar, de tempos a tempos lá vem a surpresa de descobrir que quando o amigo X ou o colega Y sobre mim escrevem, o fazem de tão curiosa maneira que entremeiam os elogios com umas observações que aos distraídos passarão por afagos, mas lidas com bons olhos não passam de sacanice.
Claro que se lhes perdoa, o que quer dizer que não se dá pio, porque bem vistas as coisas é aquele o seu feitio, são como o escorpião que nada pode fazer contra a própria natureza, tem de picar mesmo que isso o prejudique. A grande chatice, se assim posso dizer, é a hipocrisia a que tais situações levam, inclusive o mostrar boa cara e fazer das tripas coração, forçar o sorriso, impedir que os lábios, enfraquecidos pelo desdém, articulem "filho da puta". Que ao fim e ao cabo o infeliz nem sequer merece que lho chame, pois não passa dum pobre diabo, escriba de terceira sustentado pela ilusão dos elogios que pedincha.