sexta-feira, outubro 9

Dois países

 

Quis o Destino dar-me dois países, e assim pertenço a um que está entre os três primeiros dos que da União Europeia têm confiança nos seus governos, é dos mais ricos do mundo e também dos com melhor organização. O outro, aquele em que nasci, está entre os três que se encontram na cauda da UE no que respeita a economia e a organização, dá cartas na incompetência e desleixo dos governantes, no desprezo destes pelos governados, na corrupção, nas gritantes falhas da Justiça, no terceiro-mundismo dos cuidados da Saúde, e aqui paro, não por falta de exemplos, mas porque esta é a minha pátria, a minha gente, são minhas as suas dores e a sua pobreza, o seu desespero, o medo dos seus amanhãs.

Não me queixarei dos políticos, dos governantes ou dos que na sombra mandam, dos que para quem o Povo nem é gente. Não me queixarei deles, porque os desprezo ao ponto que vê-los nos jornais, na televisão ou de corpo presente, me dão a ideia de fantoches, robertos que entre si puxam os cordéis, figuras muito reais na ganância, na ladroagem, na corrupção, mas só isso, porque são destituídos de nobreza, de solidariedade, de calor humano, ficam na História com o ferrete da pulhice, deixam aos seus um nome desonrado.

Sabemos de vez em quando de um funcionário competente e incorrupto, de um juiz que nenhum dinheiro compra, até de um político que genuinamente se esforçou pelo bem-comum, mas são tão escassos esses que parecem a fata morgana, vê-se e não se acredita.

Para meu mal continuarei a afligir-me, a sofrer porque estou bem e a minha gente está mal e sem cura, sem alguém que dela cuide, se esforce para lhe dar um futuro digno e próspero.

Continuarei a ver os títeres na TV, nos jornais, mas não acontecerá como no passado, quando por vezes aceitei o seu aperto de mão. O tempo não é de cortesias, antes fosse, infelizmente também nem sequer será de ajuste de contas enquanto a Cosa Nostra usurpar o Estado de Direito.