"O Povo é quem mais ordena!" Que terá acontecido ao espírito badalado durante quase meio século? Já muito antes era treta, sempre foi, poeira nos olhos, entretém para crianças grandes e de espírito simples. O Povo português não manda nada, coisa nenhuma, nunca mandou, mesmo em sonhos não quer mandar. Até o assusta a ideia de que o obriguem a poder. Basta reparar na mansa prontidão com que se verga e aceita sem discutir, pedindo freio, esporas e chicote com ânsias de masoquismo. Em tremuras, esperançado, quase certo que se for de joelhos ou a arrastar-se pelo chão, quando a da Foice vestida de preto entrar na sua rua irá bater à porta do vizinho e lá se deixará ficar.
Esquecida está também aquela cantoria de embalar "O Povo unido jamais será vencido!", agora ainda mais tristemente pitoresca, pois tal como antes continua a ser cada um por si, união coisa nenhuma, se o vírus vier que apanhe aqueles que aponto e não dê por mim. Melhor é não pensar no futuro que nos espera, esquecer o que acontece quando se diz "desta água não beberei" e mesmo irmãos é cada um por si.