Nos momentos em que por qualquer
motivo me inclino para a introspecção, dou-me conta que desde o começo a minha vida tem sido uma
curiosa mistura de altos e baixos, com a particularidade que, duma maneira ou
doutra, algumas das ocasiões desfavoráveis resultam num improvável benefício.
Assim é que, armado com essa
experiência, tenho aprendido a não ter repentes, a pacientar nos juízos, a dar
vez à opinião alheia, fazendo quanto posso para não cair em dogmatismos ou
cegueiras, nem me deixar arrastar por paixões.
No plano pessoal tem-me vindo daí
paz do espírito, algum optimismo, e viveria sossegado não fosse o caruncho do
amor ao meu país e à minha gente, que me atacou por volta dos quinze anos, foi crescendo,
é hoje a razão maior das minhas sombras e mortificações.
Dá-me pena, mas não posso
alinhar com os entusiastas da onda de benefícios que o turismo, a mais aleatória
das indústrias nos traz. Menos ainda com os que se sentem felizes e honrados com
as peneirices de uma Web Summit, de startups e semelhantes, se vejam já a pedir
meças a Silicon Valley. Também me ensombra que sejam tantos os estrangeiros super-ricos
que de súbito descobrem Portugal, isso pela simples razão de que nem a nossa
sociedade nem os nossos políticos – tantos deles reconhecidamente corruptos –
dispõem de experiência ou meios para fazer frente ao poderio e às consequências
dessas riquezas. E os nossos ricos, mesmo os que aparecem na lista da Forbes,
não são quem para com eles competir.
O Zé Povinho, esse continuará
onde todos os reis e políticos esperam e querem que se mantenha, e a classe média,
a classe que é a espinha dorsal dos países prósperos e civilizados, vai
descobrir que o seu destino repete o dos que nos anos cinquenta e sessenta
deitaram a fugir, porque a Pátria era madrasta. E continua a sê-lo. Os seus
filhos e netos serão os próximos “vacanças”.