Por razões misteriosas de
sensibilidade há palavras que me põem avesso, como por exemplo é o
caso de desafio, usada a torto e a direito em tão desencontrados contextos que me
pergunto se quem o faz na minha presença me toma por pobre de espírito, ou crê
que isso lhe confere um certo status intelectual.
Já ouvi falar do desafio das
lides domésticas, do desafio que é trabalhar na empresa X, que hoje em dia é
desafiante constituir família, a política é um desafio, que sem desafio
facilmente se cai na depressão, e assim por diante.
Talvez por duvidarem das capacidades do interlocutor, ou a modos de sobranceria, os refinados usam para intróito a versão nacional, mas isso feito logo a esquecem e de seguida é tudo challenge, dando a entender que não são um qualquer, e como que por direito se sentem dois degraus acima de quem os ouve.
Talvez por duvidarem das capacidades do interlocutor, ou a modos de sobranceria, os refinados usam para intróito a versão nacional, mas isso feito logo a esquecem e de seguida é tudo challenge, dando a entender que não são um qualquer, e como que por direito se sentem dois degraus acima de quem os ouve.
Vertente é outra palavra que me
desatina. A um mecânico ouvi falar da vertente Diesel, e a esse no íntimo
desculpei, mas o tolo que me falava da vertente byroniana da poesia de Herberto
Hélder ouviu um sermão que não vai esquecer tão cedo.
Já me ocorreu fazer uma lista, o
caso é que a preguiça leva sempre a melhor, e ainda bem, porque devia guardar o
tempo para coisas sérias, não para me entreter com diminutas raivas de
estimação, mas não respondo por mim se me calha outro a enumerar os seus
desafios ou as suas vertentes.