Anteontem, domingo, estive num
jantar de aniversário. Boa companhia, boa conversa, ambiente animado, eu de
longe o ancião, com o dobro da idade do mais velho dos restantes, todos eles na
força da meia idade, bem na vida e aparentando saúde.
Falou-se de tudo e mais alguma
coisa, até que Portugal veio à baila, porque é país que os presentes conhecem
bem, quiseram eles então que lhes explicasse por que motivo, sendo Portugal tão
pobre e indo-se tudo degradando a olhos vistos, seja desmesurada a apatia dos
cidadãos, o descaso que mostram pelo seu próprio interesse, a modorra em que
parecem viver.
Não soube que resposta dar.
Fiquei, como aqui se costuma dizer, com a boca cheia de dentes, incapaz de encontrar razão que explique a
nossa passividade, tanto mais que eu próprio me vejo como um dos da multidão
que há tantos séculos espera que o hábito lhe entrou no sangue.
Os outros ganharão um futuro,
nós e os que vierem depois terão o que lhes derem. O que não nos abona e antontem
em tão boa companhia me envergonhou.