terça-feira, novembro 19

Nótulas (32)


Anteontem, domingo, estive num jantar de aniversário. Boa companhia, boa conversa, ambiente animado, eu de longe o ancião, com o dobro da idade do mais velho dos restantes, todos eles na força da meia idade, bem na vida e aparentando saúde.
Falou-se de tudo e mais alguma coisa, até que Portugal veio à baila, porque é país que os presentes conhecem bem, quiseram eles então que lhes explicasse por que motivo, sendo Portugal tão pobre e indo-se tudo degradando a olhos vistos, seja desmesurada a apatia dos cidadãos, o descaso que mostram pelo seu próprio interesse, a modorra em que parecem viver.
Não soube que resposta dar. Fiquei, como aqui se costuma dizer, com a boca cheia de dentes,  incapaz de encontrar razão que explique a nossa passividade, tanto mais que eu próprio me vejo como um dos da multidão que há tantos séculos espera que o hábito lhe entrou no sangue.
Os outros ganharão um futuro, nós e os que vierem depois terão o que lhes derem. O que não nos abona e antontem em tão boa companhia me envergonhou.