Eles são o
presente e o futuro. Eu, mesmo que possa provar que estou vivo, sou o passado.
O passado que morreu, do qual eles têm uma nebulosa ideia, e de que então
não havia coisas que agora há.
No restaurante
vieram sentar-se na mesa ao lado, cada um com o seu telemóvel, silenciosos, olhos
no ecrã. Sem uma palavra apontaram na lista o que queriam comer e a empregada
acenou que sim, quis saber se seria água ou vinho. ‘Água’. Comeram em silêncio,
olhos no ecrã. Acenaram que sim ao café, teclaram o pagamento na maquineta,
levantaram-se para sair, ele à frente, ela atrás, olhos no ecrã, robôs
desinteressados e insensíveis ao que comeram, onde estiveram, indiferentes se ao
redor havia gente, talvez incertos se existe mundo para lá do telemóvel.
Eles são o
presente e o futuro, mas digo-o sem pena: aos meus olhos não parecem gente nem desejo
vê-los perto.