É um raivoso daqueles que os ataques de raiva tornam cómicos, porque então de facto rebola os olhos, espuma da boca, todo ele estremece como se sofresse da dança-de-são- vito.
A mola forte da sua raiva
é a inveja. Inveja do talento alheio, do sucesso que queria ter e não alcança,
o reconhecimento dado a este e aqueloutro e que esperava seu.
Tem por meta o proveito, e
tão fanático se torna a querer alcançá-lo de qualquer maneira que não poupa o
esforço, a ponto de, fisicamente, ganhar o aspecto dos rafeiros que, exaustos e sequiosos, vão pela
berma dos caminhos.
Para um qualquer em seu
juízo bastaria o talento que Deus lhe deu, mas a ele não contenta: quer esse,
mais o do vizinho, e também o que o Altíssimo, por distracção, esbanjou nos
figurões que lhe fazem concorrência, os mesmos que, sem parar, recebem prémios,
benesses e louvores.
Consegue o milagre de
contrair os maxilares quando fala, resultando daí que as palavras que articula parecem
voluntariamente sibiladas, como para melhor condizerem com o chispar dos olhos.
Lá dentro, lá no fundo, deve ter também boas qualidades, por certo conhece momentos de devoção
e altruísmo. Infelizmente, só se vê dele o que não consegue esconder.