Com a franqueza da juventude e a segurança do pouco caminho andado, diz-me ele que não aprecia a minha escrita, a acha inutilmente complicada, cheia de palavras que desconhece e provavelmente raros usam, pois mesmo os seus avós as estranham.
Sorrindo, e também francamente, digo-lhe que concordo, na
verdade assim é, tenho esse gosto pelas palavras. Poderia mesmo dizer que é
amor, fascínio, alegria, pouco me importa em que século remoto nasceram, se já
Fernão Lopes as usava nas suas Crónicas
ou D. Diniz nos seus versos.
Enquanto escrevo, muitas vezes as digo em voz alta, pelo
gosto da sonoridade, da melodia, do ritmo. Atardo-me no mistério da
combinação das sílabas, no bruxedo que transparece nos ditongos colocados de certa
maneira; assombra-me notar que com as mesmas palavras posso dizer e desdizer,
em simultâneo negar e afirmar, usá-las para malabarismos ou pesar-lhes a valia
na mais sensível das balanças.
Mas ao meu jovem interlocutor nada disto adianta, explicação
nenhuma interessa, e bem é que assim seja, porque nada se aprende sem oposição
e rebeldia.