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Afirmar que este povo é mais hipocondríaco do que aquele,
de certeza não encerra verdade nem prima
pela exactidão, e pode acontecer que os suecos, que raro enxergam o Sol, tenham
uma visão mais calma do funcionamento do seu corpo, do que os sicilianos que
todo o ano o vêem brilhar.
O sueco a quem se pergunta pela saúde, encolherá os
ombros e com um lacónico "Vou indo" encerra a questão, mas com o
italiano outro galo canta, e a experiência recomenda evitar essa curiosidade
de pura cortesia.
Antigo e civilizado povo, o italiano sofre excessiva e
massivamente de hipocondria, e à pergunta banal do "Como vai?"
responderá o habitante da Apúlia igual ao de Milão, enumerando um sem-fim de
alergias e achaques, doenças crónicas, tosses assustadoras, borbulhas que bem
podem degenerar em cancros, a suspeita de sangue nas fezes, artroses,
impingens, a comichão no braço que deve ser psoríase, e assim por diante com
previsões de cirurgias e ACVs.
Uma estatística recente sobre a compra de medicamentos na
internet ilustra curiosas diferenças de
comportamento nos povos. Assim, enquanto em 2013 os italianos encomendaram através da
internet nada menos de três mil e quinhentos milhões de euros de medicamentos,
e os alemães dois mil e setecentos milhões, os holandeses limitaram-se a gastar
a estatisticamente miserável soma de
setenta e nove milhões.
Deve-se deduzir daí que os holandeses são imunes à
hipocondria? Acho que não, pois se pergunto pela saúde da maioria dos que
conheço, logo eles referem moléstias e padecimentos. Mais provável é que se
trate de uma questão de bom senso e amor à carteira.