terça-feira, julho 8

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Afirmar que este povo é mais hipocondríaco do que aquele, de certeza não encerra verdade nem  prima pela exactidão, e pode acontecer que os suecos, que raro enxergam o Sol, tenham uma visão mais calma do funcionamento do seu corpo, do que os sicilianos que todo o ano o vêem brilhar.
O sueco a quem se pergunta pela saúde, encolherá os ombros e com um lacónico "Vou indo" encerra a questão, mas com o italiano outro galo canta, e a experiência recomenda evitar essa curiosidade de pura cortesia.
Antigo e civilizado povo, o italiano sofre excessiva e massivamente de hipocondria, e à pergunta banal do "Como vai?" responderá o habitante da Apúlia igual ao de Milão, enumerando um sem-fim de alergias e achaques, doenças crónicas, tosses assustadoras, borbulhas que bem podem degenerar em cancros, a suspeita de sangue nas fezes, artroses, impingens, a comichão no braço que deve ser psoríase, e assim por diante com previsões de cirurgias e ACVs.
Uma estatística recente sobre a compra de medicamentos na internet ilustra curiosas diferenças de comportamento nos povos. Assim, enquanto em 2013 os italianos encomendaram através da internet nada menos de três mil e quinhentos milhões de euros de medicamentos, e os alemães dois mil e setecentos milhões, os holandeses limitaram-se a gastar a estatisticamente miserável soma de setenta e nove milhões.
Deve-se deduzir daí que os holandeses são imunes à hipocondria? Acho que não, pois se pergunto pela saúde da maioria dos que conheço, logo eles referem moléstias e padecimentos. Mais provável é que se trate de uma questão de bom senso e amor à carteira.