segunda-feira, janeiro 24

Imagem


Alguns sabem-no logo de pequenos, mas a outros, como a mim, falta qualquer coisa que nos impede de criar o que sempre foi importante e hoje o é mais do que nunca: uma imagem singular de nós próprios, uma que nos satisfaça e ao mesmo tempo distinga.
Criando a imagem adequada encontram uns caminho na política, sobem outros no teatro, nas artes, na literatura, ganham fama no cinema, na tv…
A Agnes Gonxha Bojaxhiu, mulher de mau génio, interesseira, manipuladora, de negócios e amizades duvidosas, bastou a imagem que se criou de Madre Teresa de Calcutá, protectora dos pobres e socorro dos aflitos, para se ver a caminho da santidade.
Um qualquer Bono cria a imagem de ajudar os pretinhos e tudo quanto é gente importante lhe vai ao beija-mão, fingindo esquecer que mete no bolso os milhões da caridade. Veja Al Gore, Madonna, Lady Gaga… a imagem é tudo, o resto só fingimento.
De nada adianta quem você é, conta sim a imagem que se criou. E olhe que há muito por onde escolher. Arauto da liberdade, por exemplo. Defensor acérrimo da democracia (podia escrever decidido ou pertinaz, mas acérrimo tem cachet). Político impoluto. Homem de uma só cara. Homem vertical. Nas coisas da escrita é excelente, mas difícil, a imagem de jovem promissor. Cansativa também, pois implica excentricidades de vestuário, de comportamento, e tempo bastante para macaquear. Melenas e/ou uma barba à Van Dijk são atributos clássicos de eficiência provada.
Infelizmente, para tudo há excepções. Não gosto dele como pessoa, irrita-me a sua chança de histórico da Revolução, desagrada-me a poesia que compõe, o seu amor da caça, o ar de fidalgo amigo do povoléu, o estilo da barba, o modo como fuma charuto, mas não posso negar que Manuel Alegre era o único candidato com o fácies, a voz e o modo façanhudo que em minha opinião deve ter um presidente da República. Daqueles à moda antiga, que ficam bem no retrato. Como o presidente Carmona da minha infância.