Passei ontem algum tempo a reler umas tantas páginas de De la Démocratie en Amérique, de Alexis de Tocqueville (1805-1859). Este interessante livro li-o eu pela primeira vez com dupla admiração: pela perspicácia com que analisa a então jovem sociedade americana, e pela enorme fosso entre o saber de Tocqueville aos vinte e seis anos, quando o escreveu, e a minha ignorância e ingenuidade quando com pouco mais de vinte e seis o li.
Amparado por um artigo no semanário holandês Elsevier, surpreendeu-me agora descobrir algo que em leituras anteriores me tinha escapado, o carácter profético de certos aspectos da obra.
Na opinião de Tocqueville a Revolução Francesa "não foi uma cesura com o passado, mas o culminar de lentos processos dificilmente controláveis. Fundamental nesses processos seria o facto de os indivíduos se retraírem no ambiente particular e em círculos cada vez mais restritos.
Daí resultaria um verdadeiro vácuo social e, por consequência, o perigo do seu preenchimento por uma burocracia estatal todo-poderosa. Ao deixar a condução do interesse público nas mãos de burocratas paternalistas, o indivíduo aparentemente livre e independente, senhor do seu destino, tornar-se-ia um súbdito, deixando assim que o individualismo evoluísse para um despotismo burocrático.
"Imagino uma incontável e inquieta massa de indivíduos, todos idênticos, girando em torno de si própria para conseguir obter os pequenos e vulgares prazeres que o seu coração ambiciona."
Acho que é aí onde infelizmente chegámos.
Uma frase que em 1957 sublinhei no meu exemplar: "Se me perguntarem como se explica a extraordinária prosperidade e o poderoso crescimento da nação americana, direi que isso deve ser atribuído à superioridade das suas mulheres."