Que vá hoje votar, que boicote ou se abstenha, nada terá mudado quando amanhã se conhecerem os resultados e a república tiver um novo presidente.
No próximo mês e nos próximos anos é que as mudanças virão, muitas, para pior, e os senhores que mandam na república – res publica, a que devia ser de todos mas não é – continuarão a dizer, com verdade, que a culpa é sua. Que foi simples no pensar e insensato como cidadão. Gastou em demasia, endividou-se, correu atrás do canto da sereia do crédito fácil, fez fé no vizinho que lhe garantiu que vida sem Mercedes não é vida. Diziam os antigos que "quem não viu Lisboa, nunca viu coisa boa", mas para si coisa boa é o México, as Seychelles, a Tailândia. Recorda-se de ter encontrado em Banguecoque a Joaquina da sapataria, vinte anos, trezentos euros de ordenado?
Vão-lhe provar que foi e continua a ser tolo. Não o farão com palavras, mas com leis, medidas e regulamentos, adulterando a democracia que lhe prometeram, e eles transformaram numa suculenta reserva de caça privada. Enriquecendo-se e empurrando-o a si para a miséria, aquela em que não se morre de fome, mas de carências e desespero.
Ao contrário do que fizeram os pais destes, os senhores da ditadura, a si já nem deitam migalhas: recomendam-lhe que seja manso, aguente sem queixas, continue a acreditar e a iludir-se com a igualdade que nos faz tão desiguais.
Votou? Julga que cumpriu? Boicotou ou absteve-se e sente-se revolucionário?
Meu caro, triste, ingénuo e infeliz compatriota, abra os olhos à realidade. Acorde, deite fora a banha de cobra. E estes senhores com ela.