quarta-feira, novembro 18
A vila desperta
Oito e meia. Na rua gente tão pouca que se conta pelos dedos, caminhando com o vagar de quem se inventa um afazer. Trôpegos a subir as escadas do Centro de Saúde. Crianças. Duas aqui, uma no outro passeio, três além, vão para a escola numa sem-pressa de reformados. Uma anciã vestida de preto, abraçada a dois repolhos, espera numa ombreira. Uma rapariga segura ainda na mão a nota de dez euros que acabou de tirar do Multibanco. Passa um ou outro carro. Um grupo de bombeiros discute junto de uma ambulância, a luz azul a girar, anunciando uma urgência que as gargalhadas contradizem. Um camião do Matadouro de Miranda parado junto do talho. Um gato branco. Nove menos dez. Na janela de um primeiro andar um braço sacode um pano, e mais adiante, à porta da loja de electrodomésticos, um rapaz descarrega tábuas de engomar. Um homem de fato e gravata, a pasta debaixo do braço num modo antigo, entra no Tribunal. Um aldeão idoso, com uma vara e uma saca pergunta se sei onde mora o senhor Alberto, que antigamente fazia os seguros e trabalhava no Pinto & Sotto Mayor. Desculpo-me e sugiro que pergunte aos taxistas. Um jipe trava na passadeira. O relógio toca as nove. A Caixa vai abrir.