Na Ópera ou numa inauguração, nas muitas obrigações públicas a que o cargo obriga, vê-se por vezes Job Cohen, o burgomestre de Amsterdam, a empurrar a cadeira de rodas da esposa, que há muitos anos sofre de esclerose múltipla. É um momento que se observa com respeito.
Job Cohen (1947) catedrático de Direito, Secretário de Estado, desde 2001 burgomestre da capital. Apreciado por alguns, mal amado por outros, o seu cargo não é dos mais fáceis, nem a cidade é das mais dóceis.
Recentemente teve ele de se sujeitar a mais uma entrevista na televisão. O entrevistador pediu-lhe que, "para facilitar o contacto", tirasse como ele o casaco e se sentassem ambos no chão. O burgomestre obedeceu. Decorreu a conversa sobre os assuntos do costume, até que em determinado momento o jornalista quis saber se, mau grado a paralisia desta, ele e a esposa ainda tinham relações sexuais.
O burgomestre respondeu.
Desde então, nos momentos mais inesperados dou comigo a rogar pragas sem saber bem a quem:
- Se ao jornalista, que explicou que "é extremamente ténue a linha divisória entre o voyeurismo e o modo de discutir a intimidade"; que "a maneira como um político fala do sexo diz muito sobre os seus pontos de vista políticos"; além de que ele, jornalista, procura sempre "descobrir a charneira entre o que é privado e o que é público, pois só daí resulta o verdadeiro retrato do entrevistado".
- Se ao burgomestre, que não respondeu com um par de bofetadas.
- Se a este raio de mundo onde a norma anda em bolandas.