- Não gostei daquele teu texto de anteontem, "O Mateus".
- Porque terias de gostar?
- Em geral quase sempre gosto, mas aquele aborreceu-me. Não sei porquê. A ideia de que parecia verdade, mas não deveria ser. E também outra coisa, o cão. Acho que o já o vi a acompanhar outro texto.
- E daí?
- Aquilo não se passou assim, pois não? Não aconteceu.
- De facto não. Porque é que deveria ter acontecido?
- Não sei, mas quando li disse comigo que talvez pudesse... A fotografia do cão é que... Causa-me sempre um certo incómodo quando leio uma coisa e depois, não sei bem, sinto-me ludibriada.
- Sendo assim é melhor não leres.
- É como se... O cão é um dos teus, não é?
- É. O Max. Gosto daquela expressão dele. Parece triste, mas é fingimento.
- De ti esperava... Acho que até certo ponto um escritor deve...
- Um escritor não deve nada coisa nenhuma, nem tem explicações a dar. Inventa a verdade e conta histórias. Só.