sexta-feira, agosto 22
Paisagem antiga
Terras de pedra, de pão, calcinadas pelo fogo de Agosto. Oliveiras que os anos retorceram, pinheiros sombrios, fios de água que correm nos vales e não acodem à seca. Abutres circulam alto, vindos ao cheiro da ovelha morta que a aragem espalhou. Vagarosos, à espera que o rebanho se afaste. Chocalhos fúnebres. Montes sem alegria. O fumo pairando sobre as casas, sete da tarde, sol bárbaro. Um carro de bois chia na ladeira, lamento que se espalha, canção de tristeza e desespero. A torre quadrangular e escura da igreja. A casa do capitão - com sentina - alvejando, casas escuras de pedra solta, palheiros cobertos de colmo, a nossa derreada na encosta, caiada de amarelo. Mais longe uma cor-de-rosa, outra de um azul deslavado. À porta do forno um saco de pinhas, um molho de estevas, cântaros de barro sem asa. Uma burra presa à argola. Uma mulher passa com um saco à cabeça.