sexta-feira, julho 23

Monica Belluci

                                                                                         (Clique)

É simpático, bom rapaz, diz-se que se contam pelos dedos os que têm um talento assim. Pontes é com ele. Verdadeira paixão, nascida misteriosamente nos anos de menino e desenvolvida no Técnico com rapidez de foguete, deixando atrás de si colegas e mestres, brilhante a ponto que nem sequer se lhe pode ter inveja.

Damo-nos bem, temos um vago parentesco de trisavós comuns, de longe a longe juntamo-nos a almoçar, e ele então preocupa-me. Ia dizer que me assusta, mas acho que me devo conter. Preocupa-me porque, fora pontes e surf, o vasto mundo parece desinteressá-lo, a sua ignorância toca o bizarro, conversar com ele não é um agradável intercâmbio de opiniões e assuntos, mas um exercício de paciência. Fala-se dos templários a propósito do castelo aqui perto? Tem de se lhe explicar. Lutero e a Reforma? Idem. Reykjavik? Dá-lhe para rir. Um amigo falava de Monet, abespinhou-se ele por não compreender o que é que monnaie tinha a ver com pintura. E assim por diante.

Bom moço, tudo se lhe perdoa. Semanas atrás mostrou-me uma fotografia da namorada. A primeira, pois até há pouco só se dera à paixão das pontes.

- Que acha?

- Muito linda.

- Parece-se um bocado com a Monica Bellucci, não parece?

Digo que sim, e de facto...

- É a sério?

- É. Vamos casar na Primavera.

O que durante uns segundos, em simultâneo com a conversa, se passou no meu cérebro deve ser mesmo deformação profissional. É que visualizei cenas inteiras do seu futuro. Fantasiado, evidentemente. Vi-o a esperar longas horas até que a sua Monica Bellucci terminasse a maquilhagem. Vi-o impaciente à porta de casa, enquanto Monica pela quarta ou quinta vez voltava ao espelho, ora a retocar os lábios, ora a corrigir as pestanas, a compor o penteado, a ajeitar o chapéu. Vi-o na cama, sonolento, olhando de vez em quando o relógio, perguntando-se porque duravam tanto as horas que Monica demorava à noite no quarto de banho. Vi-o sorumbático e de lábio descaído em lojas de modas e sapatarias, em centros comerciais, de braço dado com Monica defronte de vitrinas, a folhear revistas em salões de cabeleireiro, desnorteado por não saber que opinião dar sobre o vestido assim, o tailleur assado, este creme, aquele gel...

Porque não sou de conselhos, meti a viola no saco. O que vier virá.

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Na imagem: a ponte Erasmus em Rotterdam.