sábado, junho 1

Ou vai ou racha



Resmunga o Eduardo que esteve a fazer contas, passaram  meses e na sua ideia a coisa não pode durar, não aguenta, porque já nem é senhor em sua casa, tudo gira em volta do Fernando, o irmão mais novo da Idalina, que há anos vive em New Jersey e num fim de tarde, como se fosse grata surpresa, sem aviso lhes bateu à porta, anunciando que vinha por uns tempos até que se resolvesse um caso e ficaria com eles enquanto não encontrava poiso.
Vão correndo os meses, o cunhado está de pedra e cal, o Eduardo desabafa com um ou outro, jura que se lhe acabou a paciência, um dia destes ou vai ou racha, mas pelas caras que lhes vê e a maneira como encolhem os ombros sabe que não acreditam, devem suspeitar que as razões são outras, pois um tipo com dinheiro  -  se é verdade o que consta  -  não se iria sujeitar a viver com eles num acanhado rés-do-chão.
O caso é que “o americano” não somente se sujeita, como dá a impressão de que  tudo corre  a seu contento, fazendo-se apaparicar pela irmã, mandando nela com perrices de miúdo. Uma tarde confessou-lhe que tinha voltado por ter havido problemas com o divórcio da Marilyn, mas assim que tivesse o processo arrumado ia-lhes mostrar o que era a gratidão.
Abraçou-a muito, disse que nunca esqueceria o que estavam a fazer por ele. Ainda pensara em ir para um hotel, só que não podia suportar que lhe voltasse a faltar o carinho da irmã, que sempre tinha sido uma verdadeira mãe. E a propósito, esquecera mas dizia-lho agora: como não tem filhos, se um dia lhe acontecer alguma desgraça são eles os únicos herdeiros, e nem precisarão de mexer uma palha, lá na América os advogados tratam de tudo.
Eduardo ouviu-a aos bufos, sacudindo a cabeça, perguntando-se se a mulher estava em seu juízo ou a precisar de óculos. Então não via que o pelintra não tinha onde cair morto? Que o que estava mesmo a pedir era um pontapé e rua com ele?
Desde aí, assim que o marido chega Idalina não sai do lado do irmão, a temer o pior, porque nem olha para eles, deixou de lhes falar, não vem comer a casa nem a quer na cama – fosse dormir no sofá ou com o “Nandinho”.
- Que se aborreça por causa do meu irmão, até sou capaz de compreender, mas por essa da cama vai pagar, ó se vai, e com língua de palmo. Que a coisa não fica assim, nem é ele o único a mandar, agora as mulheres também são gente. Nunca discuti nem lho fiz sentir, para evitar arrelias, mas esse tempo acabou, já não é como quando se dizia que quanto mais uma pessoa se abaixa mais se lhe vê o cu.