De boas novas
todos precisamos, pela alegria ou alívio que dão, mas também para fazerem
contrapeso às que nos atormentam, tanto mais que nos dias que correm, em que
muito do que parece não é, em certas ocasiões torna-se difícil afirmar com
segurança se uma notícia que nos chega é boa ou má. E deixo de lado o que
antigamente se chamavam boatos ou mexericos e agora à moderna dão pelo nome de fake news, quero apenas referir a
dificuldade que por vezes sinto em decidir se determinada notícia é boa ou má.
Isso não somente
porque certos padrões parecem mudar dum dia para o outro, mas também porque em
muitos casos se me torna difícil compreender e aceitar a urgência ou o
benefício da mudança. E já nem falo das complexas questões do clima ou da
política das grandes potências, que essas transtornam cada vez mais o meu
entendimento, como não toco nos assuntos
de economia, porque então me sinto mesmo no escuro, mas daqueles acontecimentos de aparência corriqueira que de
súbito ganham uma estranha dimensão. Pareciam esperançosas boas notícias e
afinal mostram má cara.
Como se não me sobrassem
motivos de desassossego, ao abrir uma revista dia atrás vi-me diante de
problemas de que nem suspeitava a existência, e quase obrigado a tomar partido,
quando nem por sombras imagino qual é o lado bom ou se a razão está com o lado
mau.
Sabia V. que a
caxemira, durante séculos o tecido mais
caro do mundo, fica hoje ao alcance de todas as bolsas, e isso se deve aos
colossais rebanhos de cabras na Mongólia? E que
pela sua quantidade e voracidade as cabras estão a destruir a natureza
desse longínquo país? Vai V. ter problemas de consciência e pensar na natureza
da Mongólia quando for comprar um casaco ou um pulôver de caxemira? Ou
egoisticamente opta pelo luxo barato e esquece as cabras?
Esse dilema bastaria,
mas o artigo lembrava ainda que as centenas de milhões que há pouco nunca
tinham ouvido falar da quinoa, querem agora comê-la todos os dias, fascinados
que andam pela sua riqueza nutritiva, a qualidade das vitaminas, e o mistério
de há milhares de anos ser o alimento básico dos quéchuas. Até aí tudo bem, não
fosse o caso de que à medida que a procura foi aumentando o preço subiu, na
Bolívia e no Peru os quéchuas deixaram de comer a quinoa para a poderem vender.
E aí estamos nós com mais um dilema que desconhecíamos e bem dispensávamos, quando
nos bastava o trigo, o centeio, o milho, a cevada, e agora nos aflige a cada
colherada de quinoa que levamos à boca.