domingo, janeiro 26

Na Travessa do Fala-Só

 

Ao que motiva estas crónicas poderá cada um dar a interpretação que julgue plausível, mas é escassa a probabilidade de que as tomem pelo que elas de facto são: a conversa de um fala-só  que, de certa maneira, descarga assim uns quantos pesos de horas infelizes, preocupações e sustos inerentes às suas vivências, e ele supõe sejam também algumas as de grande parte dos seus semelhantes.

 Além de inevitáveis, muitos desses contratempos abundam no mais comezinho dia-a-dia. Outros, porém, dão a impressão de que se especializam para, individualmente, nos escolherem como alvo favorito, atingindo-nos em hora marcada, e com a precisão de um atirador de elite, cuidadoso em que o ferimento não tenha como resultado o destino final, mas provoque um mais que aborrecido incómodo. Ainda por cima que seja duradouro na repetição, e possua qualidades que levem a pensar nas comichões da sarna.

Longe de mim o propósito de desvendar quais, ou de que género são os transtornos que mais me afligem, e isso não só por uma questão de recato, mas também prudência, não vá correr o risco de ser tomado por um quexinhas ou, do mesmo modo desagradável, me venham aconselhar que esfregue as mãos de contente, pois são de sobra os que têm de aguentar mais e pior.De facto assim é, e de certeza alguns haverá

 que de boa vontade trocariam de pele comigo, mas a questão que se põe não reside na espécie ou no 

volume do contratempo, sim na capacidade individual do que antigamente se denominava estoicismo, mas em português da última moda se chama resiliência.