quinta-feira, agosto 15

Prof. Vítor Serrão - dixit, in Facebook

  

«CRAVOS DE RENTES. Que dizer deste 'Cravos e Ferraduras' (Ed. Quetzal) que acaba de saír, da autoria de J. Rentes de Carvalho ? O nonagenário escritor dá-nos um retrato a cru da paisagem portuguesa: vidas sombrias numa província desconhecida, pintadas em histórias breves que fazem doer e ferem como farpas (ah, o derradeiro conto !).
É um livro que só na aparência lembra os contos de 'Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia'; estes são menos humorosos, menos piedosos, mais cáusticos... Parecem pedaços saídos de 'O Meças' (livro por alguns mal-amado, mas admirável).
Lemo-los com o prazer de sentir o estilo depurado de Rentes mas com esse amargo crescente que só poucos sabem põr a nu, um amargo que dilacera, conto a conto: mas é mesmo verdade que também somos assim ?
Não, não é um livro para férias (como era o citado), e sim um grande fresco lusitano cheio de turbulências, onde quase todas as personagens escolhidas não merecem mesmo a nossa piedade.
Rentes de Carvalho (n. 1930), cidadão do mundo com raízes transmontanas, continua a ser o romancista de referência, o admirável contador de histórias que só ele sabe dizer em sínteses sem rodeios e em que a simpatia não precisa de estar presente.
Num país de grandes poetas, surge por vezes um enorme escritor: é o caso, mil vezes demonstrado nos últimos trinta anos desde que, de obscuro escritor luso-holandês, passou a ser conhecido e aclamado em Portugal...»