domingo, agosto 18

As olimpíadas dos pequeninos

 

Quanto mais pequeninos são mais inchados se mostram, e como está para além da sua pequenês a capacidade de terem consciência do ridículo das atitudes que tomam, acabam por se tornar padrão numa sociedade em que a aparência ganha um valor de medalha olímpica.

A própria e desmesurada chança desse muito comum tipo de gente implica, além do burlesco sentimento de superioridade, um irreprimível impulso de achincalhar o semelhante, diminuí-lo de todas as maneiras no que é, no que faz, mesmo no que eventualmente se assemelhe à posse de uma qualidade ou vantagem.

Com lógica ou sem ela, raciocíno tosco, mentira descarada, pura invenção, rasteira, canalhice, de tudo usam e abusam para diminuir o semelhante, mais ainda se aos seus olhos o dito parece ter subido um pequenino degrau na craveira social.

Entretêm-se então a rebuscar o presente e o passado do alvo, perguntam a este e aqueloutro, incham quando descobrem que no liceu teve negativas, e na tropa dias de prisão. Regozija-os em particular a humildade das suas origens, comparam-na com a própria, gente de alto coturno, trisavós que iam a águas em Vichy e tinham estado na Riviera.

Atingido esse ponto, chega a altura de lhes contar a história do general romano, que de tão vitorioso o comparavam a César, e o Senado tinha eleito para membro. Essa excepcional e muito honrosa homenagem caiu mal a um dos senadores que, sendo da aristocracia secular, lembrou ao general que, por muito vitorioso e famoso que fosse, e honras recebesse, permaneceria o descendente de escravos libertos.

- De facto assim é, senador. Mas há entre nós uma grande diferença: a minha aristocracia começa comigo, enquanto que essa atitude demonstra o fim da sua.