domingo, agosto 25

Mais uma derrota

 

Uma vez por outra é coincidência, mas acontece também que o Cardoso telefone dias antes, e então, sempre às sextas, encontramo-nos na esplanada do café do italiano perto do supermercado. Dois idosos que fazem levantar as sobrancelhas aos circunstantes, tanto porque a surdez nos obriga a falar um nadinha alto demais, mas também porque a língua que ouvem vagamente lhes recorda férias passadas qualquer parte no sul.

Desta vez telefonou quinta à noite, a certificar-se que nos encontraríamos. Chegou pontual, mas aquele sorriso não era o costumeiro, servia de máscara a qualquer coisa que o perturbava, e ele, à maneira de intróito, apontou para o jornal ao pô-lo na mesa.

- Perdemos com a Albânia!

Dá-se o caso que, embora amigos de longa data e ambos partilhando alguns interesses, o futebol que para ele é paixão, em mim desperta a vaga curiosidade de um cabeçalho no jornal sobre um hat trick de Ronaldo, e pouco mais.

- Então perdemos com a Albânia? – arrisquei eu.

O tom era fingido, e com algum descaro ainda perguntei onde tinha sido o jogo, se fora grande a diferença de golos.

Encarou-me ele com uma expressão em que misturava a surpresa e genuíno desânimo:

- Não houve futebol, homem de Deus! É o turismo! A Albânia vai-nos dar cabo do Algarve! Este ano já não será, mas as promessas são pouco animadoras. E como os turistas e ovelhas são do mesmo... Lê isto.

O artigo do jornal – a “peça”, em portinhol moderno – era todo o contrário de uma necrologia. Anunciava em tom bombástico ser a Albânia agora, e no tempo a vir, o destino ideal para as férias. Natureza espectacular, paisagens de tirar o fôlego, praias vazias de banhistas, “locais” muito prestáveis, sorridentes, de cortesia extrema.

- Estás a ver?  Digo-to eu, vamos perder o Algarve como dois e dois serem quatro!