sábado, setembro 5

Viagra, narizes, medos, conversa


Cinco amigos entre os quarenta e os oitenta. Ponham um grupo assim a tomar café numa esplanada e a conversa salta da política para os preços, da elegância da mulher que passa para as asneiras do jornal, o que se comeu ontem, a morte súbita do João, as eleições... Enfim, a conversa corrente, até que um, escarafunchando o nariz, se queixa de que ultimamente o sente entupido.

- Deve ser da poluição – diz alguém.

- Poluição? Grande treta! É mas é da Viagra! – reponta outro.

O primeiro abespinha-se. De Viagras e merdices nunca precisou, nem vai precisar. E nunca ouviu dizer que a Viagra entupisse o nariz.

O tom acalma, a conversa faz um rodeio sobre os medicamentos em geral, prossegue depois sobre o que repente interessa mais.

- Nunca tinha ouvido.

- Mas é verdade, entope mesmo.

Um conta que toma comprimidos para a tensão arterial e o médico lhe disse que tivesse cuidado, podia-lhe dar um desmaio. E se começasse a sentir dores no peito era melhor...

- Era melhor quê?

- Não usar. Também dá dor de cabeça.

- Dores de cabeça toda a gente tem.

- Se fôssemos acreditar nos efeitos secundários nem aspirina se tomava.

- Não é bem assim. Há gajos que depois de tomar a Viagra começam a ver mal, confundem as cores, sentem vertigens.

- E isso passa?

- Passa. Ao meu primo dá-lhe para sangrar do nariz.

- Então se se vê um sujeito a sangrar do nariz, ou com ele entupido, quer dizer que tem problemas com a ferramenta?

- Pode ser que sim.

- Outros sentem dores nas pernas, não aguentam a luz.

- Eu – diz o sessentão – tomo a Viagra vai para três anos e dou-me muito bem. Garante a festa. O único contra é o preço. Ou melhor: era, porque agora corto-as a meio e dá o mesmo efeito.

- Não acredito! Além disso, como é que as cortas, lisas e miudinhas como são?

O sessentão fez cara de amuado e nesse momento o mais novo levantou-se e disse:

- Vamos pagar isto, que vem aí chuva.