domingo, março 15

Na piscina


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Médica, trinta anos, solteira, bonita de cara, corpo bem feito, despachada, virgem ainda. Funcionário da EDP, quarentão, divorciado, galaroz. Advogado, também quarentão, também divorciado, idem galaroz. Taxista, idade incerta, solteiro, esteve na Suíça, “viu muito mundo.” Padre, também nos trinta, cantor de rock nas suas horas, “moderno”, doido pelo Alfa Romeo vermelho que os pais lhe compraram quando se ordenou.

Estes são os personagens. A história passa-se numa vila daquelas como só há em Portugal. Começou quando a médica e o funcionário calhou irem à mesma hora nadar na piscina que a câmara mantém confortavelmente aquecida até Maio.Conheciam-se vagamente. Nadaram. Repousaram sentados na borda, os pés a remexer a água. Ele confessou que nadava mal, ela ofereceu-se para o ensinar. Depois foram tomar café. Dias depois juntou-se-lhes o taxista, também ele a precisar de lições.
Os outros foram aparecendo aos poucos, todos fracos na natação e ansiosos por mestra. O padre foi o último a juntar-se-lhes. Voz sonora, braçadas de campião, pulmões de cachalote, ao segundo dia convidou a rapariga para uma volta no Alfa Romeo. Longa volta, muita conversa, muito riso.
O advogado, esse é mais de jantares em lugares de boa mesa. Quer levá-a a Espanha, mas ela disse-lhe que será melhor esperar pelos dias de Maio e de mais calor. O funcionário manda-lhe rosas vermelhas. Dentro de água o taxista de vez em quando faz umas piruetas, sorri alarve e acaba sempre por lhe tocar. Repete aos amigos a sua frase favorita, “Já vi muito mundo!”, acrescentando sabedor: “Esta é das tais! No dia em que a apanho a jeito como-a inteirinha."
Que faz a jovem no meio disto tudo? Responde que gosta de ver as pessoas felizes, que não há mal nenhum em se divertir de vez em quando, que é tudo pura amizade, carinho, simpatia...
Estes e outros detalhes manda-mos a mãe num longo mail que termina pedindo conselho.
E eu, antes de escrever isto, pus-me a pensar como dá pena não ter trinta anos e não ser livre! Das muitas coisas que me ensinaram esqueceram a natação.
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PS. À mãe aconselhei que não se preocupe. O mundo já não é o da nossa mocidade, o dos três vinténs.